domingo, 19 de agosto de 2007

CAFÉ EM BOA COMPANHIA...

Era noite fria de sexta-feira. Estavam, as três damas, a trocar confidências entremeadas a goles quentes de latte. Eis que duas delas fizeram uma descoberta, no mínimo curiosa e reconfortante, que as unia sob um determinado aspecto ideológico. Não na totalidade de suas existências, mas na travessia singular e momentânea que ambas trilham por entre as veredas do viver.
Dizia uma de sua ânsia por vivenciar um romance. Não desses duradouros, eternos. Não. Uma companhia eventual, liberta de compromisso. Baseada no desejo simplista de desfrutar momentos ímpares e prazerosos junto de quem não se faz preciso pensar em nada nem ninguém. Um alguém que traz tons novos e vibrantes à aquarela que pinta nossos dias.
A outra dama, a completar as frases da companheira de xícara, devaneava sobre as delícias de receber chamadas inesperadas no meio do dia, sobre as tais borboletas – a bater as asinhas freneticamente – inundando todo o ser de uma sensação que as palavras não se fazem suficientes para explicar.
Seria essa uma representação genuína do pensamento individualista contemporâneo. Ou ainda uma prova factual de que os relacionamentos evoluíram para um grau de desprendimento jamais observado. Evidencia-se, porém, que há chance maior de uma involução na fenda da camada de ozônio que encontrar duas almas leves, dispostas a atirar-se nos braços aconchegantes e incertos do "talvez".
Sendo assim, as verborrágicas linhas traçadas servem, apenas, para elucidar o momento de reflexão de uma mente pensante, sedenta por respostas. Hoje me fiz companhia. Ninguém mais a habitar esse universo me saciaria além de mim – salvo uma rara exceção que não merece ser mencionada.
O preço a ser pago é a presença indesejada de pensamentos inquietantes e desgrenhados como as madeixas castanhas e encaracoladas que me emolduram o rosto. Insensatez essencial e pulsante, única capaz de fazer-me sentir viva e atestar minha veia sentimentalmente barata de romântica inveterada.
Cá entre nós, o telefone bem que podia tocar...