quarta-feira, 31 de outubro de 2007

ESSA SENSAÇÃO DE POSSIBILIDADE...

Era um dia ordinário, como tantos outros que já haviam passado. O atraso rotineiro fazia-a praguejar contra os motoristas que, por ingenuidade ou desconhecimento, cruzavam seu caminho. O descontentamento sem propósito causou-lhe tamanho enfado que resolveu tentar algo inusitado. Num golpe de vista, levantou o olhar para mirar algo que não o próprio umbigo.
O sol da manhã banhava a cidade com delicadeza. Logo ali, uma bela árvore, de galhos longos, carregados de folhas bem verdinhas chamou-lhe a atenção.
Claro que já tinha visto muitas árvores ao longo de sua vida. Mas aquela parecia devolver seu olhar. Como se a convidasse para recostar em seu tronco maduro, sob as folhinhas dançantes que, ao sabor do vento, permitiam a um ou outro raio de sol que por elas passeasse.
De uma cumplicidade ímpar, aquele momento durou segundos suficientes para tornar-se marcante. Sua ânsia era de abrir a porta, saltar do carro e correr para os braços de sua nova amiga de sempre. Não que o trabalho não a fizesse suficientemente feliz para correr para ele. Muito menos que lhe satisfizesse mais repousar sob a sombra de uma árvore à labutar. Assim, todas as manhãs, a jovem de longos cabelos esvoaçantes dava o ar da graça para aquela imensidão verde-folha.
Eis que um dia, uma tristeza profunda tomou conta dos alegres olhinhos cor de café. Todas as formas e os conteúdos adotaram uma tonalidade cinzenta. Diante da árvore, naquele dia, encheu-se de coragem para encara-la, vencendo o medo de desvenda-la em tons pastéis como tudo o mais naquela manhã.
Qual não foi sua surpresa, quando todas as verdes folhinhas da imensa árvore gentilmente cederam lugar a belíssimas flores rosadas. Não havia um só lugar que os raios de sol conseguissem penetrar, pois eram pétalas e mais pétalas a reverenciá-lo. Naquele exato momento, uma deliciosa sensação de possibilidade correu por entre suas veias até explodir como fogos de artifício em seu coração.
As lágrimas lavaram o olhar cinzento e permitiram que as cores verdadeiras se mostrassem vibrantes e sinceras. O farol ficou verde. A jovem de longos cabelos esvoaçantes seguiu seu caminho com a certeza indefectível de que viver é a mais bela e a mais excitante de todas as aventuras.

domingo, 19 de agosto de 2007

CAFÉ EM BOA COMPANHIA...

Era noite fria de sexta-feira. Estavam, as três damas, a trocar confidências entremeadas a goles quentes de latte. Eis que duas delas fizeram uma descoberta, no mínimo curiosa e reconfortante, que as unia sob um determinado aspecto ideológico. Não na totalidade de suas existências, mas na travessia singular e momentânea que ambas trilham por entre as veredas do viver.
Dizia uma de sua ânsia por vivenciar um romance. Não desses duradouros, eternos. Não. Uma companhia eventual, liberta de compromisso. Baseada no desejo simplista de desfrutar momentos ímpares e prazerosos junto de quem não se faz preciso pensar em nada nem ninguém. Um alguém que traz tons novos e vibrantes à aquarela que pinta nossos dias.
A outra dama, a completar as frases da companheira de xícara, devaneava sobre as delícias de receber chamadas inesperadas no meio do dia, sobre as tais borboletas – a bater as asinhas freneticamente – inundando todo o ser de uma sensação que as palavras não se fazem suficientes para explicar.
Seria essa uma representação genuína do pensamento individualista contemporâneo. Ou ainda uma prova factual de que os relacionamentos evoluíram para um grau de desprendimento jamais observado. Evidencia-se, porém, que há chance maior de uma involução na fenda da camada de ozônio que encontrar duas almas leves, dispostas a atirar-se nos braços aconchegantes e incertos do "talvez".
Sendo assim, as verborrágicas linhas traçadas servem, apenas, para elucidar o momento de reflexão de uma mente pensante, sedenta por respostas. Hoje me fiz companhia. Ninguém mais a habitar esse universo me saciaria além de mim – salvo uma rara exceção que não merece ser mencionada.
O preço a ser pago é a presença indesejada de pensamentos inquietantes e desgrenhados como as madeixas castanhas e encaracoladas que me emolduram o rosto. Insensatez essencial e pulsante, única capaz de fazer-me sentir viva e atestar minha veia sentimentalmente barata de romântica inveterada.
Cá entre nós, o telefone bem que podia tocar...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

DUAS LUAS CHEIAS NO MESMO MÊS CERTAMENTE MERECE ESTRÉIA...
















Curioso como, quando você saiu, nem bateu a porta
Deixou a ferida aberta para secar...
O sangue e as lágrimas se fundiram
Num delicioso e suave vinho rosé
Me fazendo pensar no "nós"
Que sempre teve tom pastel na minha paleta.
Penso mesmo, que nenhum pincel seria digno
Suficientemente digno para nos traçar
E como fazê-lo se há tantos detalhes...
Seu cheiro perfumando meus poros
Seu desejo tatuado em cada curva do meu corpo
Seus lábios regulando a temperatura da minha pele
E a certeza de que, exatamente o que nos faltou
Deixou mais saudade em nós.