sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Speechless



E eu me pergunto de que valem as perguntas certas, recém formuladas ou há tempos cuidadosamente pensadas se me faltam os momentos para trazê-las à tona? Que fique claro que não falo aqui dos momentos exatos, precisos, perfeitos, ideais para fazê-las. Falo aqui daqueles restantes, das sobras das horas, dos restos dos minutos¸ da esmola que Cronos nos concede por - quem poderá dizer? - estar com o humor a pino.

Queria, pois, do tempo conta tomar e dele fazer meu escravo para (ab)usá-lo ao meu bel prazer e, enfim, abandonar a agonia do silêncio imposto, da palavra cerceada, da dúvida doída com que mais um encontro sem resposta me brinda, deixando na boca o amargo sabor de não nos sabermos nós, de mais uma vez nos afirmarmos como os estranhos conhecidos em que nos tornamos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Quando a chuva cai...


Adoro dias chuvosos. Das noites, gosto ainda mais. Adoro dirigir à noite, na chuva. Há tempos que preciso trocar os limpadores do meu carro. Mas como só me lembro disso quando está chovendo, e costuma chover quando estou saindo do trabalho – horário em que todas as autopeças estão fechadas –, o resultado é um par que não funciona lá essas coisas. Entretanto, confesso que parte de mim adia tanto quanto possível essa troca. Isso porque, por estarem com as borrachas ressecadas, os limpadores não levam toda a água que se acumula sobre o pára-brisa. Sempre sobra uma umidade que faz tudo o que vejo mostrar-se sem a nitidez que lhe é peculiar. O mundo, num instante, torna-se uma obra impressionista. Um Monet com tons pastéis substituídos por tonalidades mais vibrantes: o amarelo indiferente das lâmpadas no alto dos postes, o vermelho gritante dos freios nos carros a minha frente, a negritude do asfalto irregular. Tudo entrecortado pelo varrer ritmado dos limpadores ressecados. Frames de um filme que já assisti dezenas e dezenas de vezes com a mesma sensação de expectativa que me acompanhava ao vê-lo pela primeira vez. O mesmo prazer insano e insaciável das inúmeras músicas que já passei dias e noites ouvindo ininterruptamente. Como se nenhuma outra canção houvesse para meus ouvidos que aquela. A única melodia que eu pudesse reconhecer. O que dizer? Sou intensa. Se gosto, gosto. E muito. Me entrego. Como àquele que prometo me entregar a cada noite solitária, regada a lambrusco, como esta. Ao preço insignificante de uma mão cheia de dedos, entrelaçados pelos cachos do meu cabelo, que gentilmente inclinam um pescoço vulnerável e ansioso por lábios famintos que alcancem meu ouvido em um intervalo de tempo suficiente para me fazer esquecer sobre o que falávamos. Adoro noites chuvosas. Dos pensamentos que me trazem, gosto ainda mais.

Comigo é no fio do bigode


Dia desses estava almoçando com um amigo querido – muito querido – quando lhe fiz uma promessa:

- Volto a postar no meu blog, – eu disse a ele – se voltar a se dedicar a seu livro.

É importante ressaltar que se trata de um escritor brilhante, que realizou uma pesquisa fantástica para uma obra memorável, da qual compôs apenas alguns capítulos. Outrossim, destaco que anseio pelo dia em que colocarei os pés em uma livraria e me direcionarei imediatamente à prateleira onde ficam expostos os livros mais vendidos para comprar meu exemplar, mesmo que o preço para isso seja reativar um blog adormecido há mais de dois anos – após a escolha de uma carreira que, infelizmente, bloqueou uma pessoa que depende dos textos que escreve para viver.

Fato é que mesmo não sendo contemporânea das práticas contratuais baseadas no fio do bigode, fui criada pela minha mãe – que, apesar de não ter bigode, honra as promessas que faz como quem veste calças. “Quer dever, prometa”, já dizia meu caro Lenine.

Como pessoa de promessas desacreditadas que me tornei, nada posso fazer senão vir por meio deste cumprir o combinado – que não é caro. Orgulhar minha mãe antes de mais nada, é certo. Mas também desprender esforço algum, se comparado à grandiosidade e à nobreza deste ato, que resultará em nada menos que uma das obras mais aguardadas pelo reles mortais que se prostram ao talento deste escritor nato, que há de se provar perante este singelo registro de uma promessa indecente – como em todo contrato em que o proponente se favorece de um jeito ou de outro.

É ganhar, ou ganhar. E, de quebra, provar que não há escolha profissional que seja capaz de calar uma mente desejosa de repostas e um coração incapaz de bater senão pela sincronia com dedos que dançam livres e destemidos com o único propósito de trazer à vida uma folha em branco.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

ESSA SENSAÇÃO DE POSSIBILIDADE...

Era um dia ordinário, como tantos outros que já haviam passado. O atraso rotineiro fazia-a praguejar contra os motoristas que, por ingenuidade ou desconhecimento, cruzavam seu caminho. O descontentamento sem propósito causou-lhe tamanho enfado que resolveu tentar algo inusitado. Num golpe de vista, levantou o olhar para mirar algo que não o próprio umbigo.
O sol da manhã banhava a cidade com delicadeza. Logo ali, uma bela árvore, de galhos longos, carregados de folhas bem verdinhas chamou-lhe a atenção.
Claro que já tinha visto muitas árvores ao longo de sua vida. Mas aquela parecia devolver seu olhar. Como se a convidasse para recostar em seu tronco maduro, sob as folhinhas dançantes que, ao sabor do vento, permitiam a um ou outro raio de sol que por elas passeasse.
De uma cumplicidade ímpar, aquele momento durou segundos suficientes para tornar-se marcante. Sua ânsia era de abrir a porta, saltar do carro e correr para os braços de sua nova amiga de sempre. Não que o trabalho não a fizesse suficientemente feliz para correr para ele. Muito menos que lhe satisfizesse mais repousar sob a sombra de uma árvore à labutar. Assim, todas as manhãs, a jovem de longos cabelos esvoaçantes dava o ar da graça para aquela imensidão verde-folha.
Eis que um dia, uma tristeza profunda tomou conta dos alegres olhinhos cor de café. Todas as formas e os conteúdos adotaram uma tonalidade cinzenta. Diante da árvore, naquele dia, encheu-se de coragem para encara-la, vencendo o medo de desvenda-la em tons pastéis como tudo o mais naquela manhã.
Qual não foi sua surpresa, quando todas as verdes folhinhas da imensa árvore gentilmente cederam lugar a belíssimas flores rosadas. Não havia um só lugar que os raios de sol conseguissem penetrar, pois eram pétalas e mais pétalas a reverenciá-lo. Naquele exato momento, uma deliciosa sensação de possibilidade correu por entre suas veias até explodir como fogos de artifício em seu coração.
As lágrimas lavaram o olhar cinzento e permitiram que as cores verdadeiras se mostrassem vibrantes e sinceras. O farol ficou verde. A jovem de longos cabelos esvoaçantes seguiu seu caminho com a certeza indefectível de que viver é a mais bela e a mais excitante de todas as aventuras.

domingo, 19 de agosto de 2007

CAFÉ EM BOA COMPANHIA...

Era noite fria de sexta-feira. Estavam, as três damas, a trocar confidências entremeadas a goles quentes de latte. Eis que duas delas fizeram uma descoberta, no mínimo curiosa e reconfortante, que as unia sob um determinado aspecto ideológico. Não na totalidade de suas existências, mas na travessia singular e momentânea que ambas trilham por entre as veredas do viver.
Dizia uma de sua ânsia por vivenciar um romance. Não desses duradouros, eternos. Não. Uma companhia eventual, liberta de compromisso. Baseada no desejo simplista de desfrutar momentos ímpares e prazerosos junto de quem não se faz preciso pensar em nada nem ninguém. Um alguém que traz tons novos e vibrantes à aquarela que pinta nossos dias.
A outra dama, a completar as frases da companheira de xícara, devaneava sobre as delícias de receber chamadas inesperadas no meio do dia, sobre as tais borboletas – a bater as asinhas freneticamente – inundando todo o ser de uma sensação que as palavras não se fazem suficientes para explicar.
Seria essa uma representação genuína do pensamento individualista contemporâneo. Ou ainda uma prova factual de que os relacionamentos evoluíram para um grau de desprendimento jamais observado. Evidencia-se, porém, que há chance maior de uma involução na fenda da camada de ozônio que encontrar duas almas leves, dispostas a atirar-se nos braços aconchegantes e incertos do "talvez".
Sendo assim, as verborrágicas linhas traçadas servem, apenas, para elucidar o momento de reflexão de uma mente pensante, sedenta por respostas. Hoje me fiz companhia. Ninguém mais a habitar esse universo me saciaria além de mim – salvo uma rara exceção que não merece ser mencionada.
O preço a ser pago é a presença indesejada de pensamentos inquietantes e desgrenhados como as madeixas castanhas e encaracoladas que me emolduram o rosto. Insensatez essencial e pulsante, única capaz de fazer-me sentir viva e atestar minha veia sentimentalmente barata de romântica inveterada.
Cá entre nós, o telefone bem que podia tocar...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

DUAS LUAS CHEIAS NO MESMO MÊS CERTAMENTE MERECE ESTRÉIA...
















Curioso como, quando você saiu, nem bateu a porta
Deixou a ferida aberta para secar...
O sangue e as lágrimas se fundiram
Num delicioso e suave vinho rosé
Me fazendo pensar no "nós"
Que sempre teve tom pastel na minha paleta.
Penso mesmo, que nenhum pincel seria digno
Suficientemente digno para nos traçar
E como fazê-lo se há tantos detalhes...
Seu cheiro perfumando meus poros
Seu desejo tatuado em cada curva do meu corpo
Seus lábios regulando a temperatura da minha pele
E a certeza de que, exatamente o que nos faltou
Deixou mais saudade em nós.